mp

segunda-feira, outubro 31, 2005

Príncipes e princesas

Cerca de 15 mil príncipes e princesas nasceram na última hora no Mundo. Ao todo, 356 mil bebés sairam de modo natural ou por cesariana da barriga das suas mães no último dia. Não se sabe se serão baptizados, nem quando. Muitos morrerão antes de completar um ano de idade.

Galinheiras ao rubro

Meningite nas Galinheiras, em Lisboa, garante a SIC. Pais fecham a escola primária afectada e o Governo pondera bombardear o estabelecimento de ensino com medo de um foco de Gripe das Aves.

À margem (93 222 3898)

Não sei se existem mais: por agora, são estes os "outsiders" da campanha para as presidenciais de 2006. Não estou a falar de Manuel Alegre, que continua a ser remetido para terceiro plano pelos comentários políticos (apesar de surgir em segundo nas sondagens), mas do advogado do maior pedófilo português, José Maria Martins, e da simpática - pelo menos a julgar pela foto – Manuela Magno.
Sem espaço nas TVs, ambos vão fazendo a campanha na Internet. Aqui e aqui.
O sítio de Manuela Magno merece uma atenta visita. É o retracto da verdadeira democracia em acção. E não é todos os dias que nos dão, de mão beijada, o telemóvel de um candidato presidencial...

domingo, outubro 30, 2005

Uma Europa pouco radical


Edifício da Comissão Europeia, em Bruxelas

Etiquetas: , , ,

sábado, outubro 29, 2005

Menos chuva, mais ondas de calor e mais fogos

As conclusões, apesar de lógicas, não são minhas. Vêm publicadas na revista Science e foram alcançadas no mais completo estudo sobre alterações climáticas e os seus efeitos na Europa Ocidental durante este século, feito por 16 institutos de investigação.
Mais secas, ondas de calor e fogos, a par de menos chuva, são as consequências das mudanças previstas para o clima do velho Continente e, particularmente, para a zona do Mediterrâneo. Segundo os especialista, esta é a área mais vulnerável a essas mudanças e será a que mais vai sofrer com o aquecimento global previsto para este século na Europa.

A ler: http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/4381960.stm

quinta-feira, outubro 27, 2005

O Braga é o tema da semana no site da UEFA. Lisboa e Porto podem pela primeira vez não ter o campeão nacional? A ler:
http://www.uefa.com/magazine/news/Kind=8/newsId=356684.html

quarta-feira, outubro 26, 2005

As mãos que começam por me cumprimentar são minúsculas e frágeis. Mais dia menos dia, garante a intuição, irão certamente partir-se, como um qualquer galho quebradiço de uma árvore. Com toda a força e brutalidade, os pequenos dedos daquelas pequenas e à primeira vista gentis “garras”, invadem-me a boca. Meia hora desconfortável depois, levam-me 125 euros da carteira. Daqui a duas semanas volto ao dentista.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Na Tugolândia

Depois de semanas a praticamente não ouvir falar português, em Irún este voltou a entrar-me ruidosamente pelos ouvidos.
Nesta espécie de ilha “tuga” – que é o Sud Express –e que percorre diariamente a Península Ibérica até França, os portugueses estão em maioria. Também entram espanhóis, que normalmente saem antes da fronteira, e alguns turistas. Mas a língua de Camões domina e, talvez pelas saudades do país que a emigração causa ou pelos meus ouvidos já não estarem habituados à conversa em voz alta nacional, faz uma barulheira tremenda.
Os homens estão em maior número. Percorrem o comboio até ao bar, falam de futebol e analisam o (pouco) mulherio. Pela falta de hábito, sinto-me estranho por voltar a ouvir português e custa-me dormir num banco onde deveriam estar quatro pessoas sentadas, mas só estou eu deitado.
Pelo meio, vem o pica espanhol, que me obriga a pagar 11 euros e 50 cêntimos de reserva num comboio meio vazio e que, apesar da nostalgia dos velhos tempos, está velho e já devia ter sido substituído ou renovado.
O comboio partiu às 22 horas, mas só consegui adormecer à 1 da manhã. Antes, sem sono apesar de pouco ter fechado os olhos nos últimos dias, também vou pôr os cabelos ao vento e ver a paisagem nocturna de Espanha.
Às 2 da manhã, deitado e já sem as botas, sonho que no lugar dos meus dois companheiros de compartimento se senta uma espanhola linda. Uma hora depois volta a sair e volto ao sono profundo. Acordo às seis da manhã com um tipo qualquer deitado no banco à minha frente. O Sud Express entra em Portugal e não consigo dormir mais. Vou à casa de banho sem me calçar. Esqueço-me que estou num dos comboios mais velhos da Europa e saiu com as meias molhadas.
Vou para a janela. Começo a ver as primeiras árvores queimadas e toda a paisagem nacional que me parece ainda mais desarrumada. O pica português não me cobra o meio bilhete da viagem em território nacional. À hora marcada, pelas 11 horas, estou em Lisboa.

Etiquetas: ,

Água

Depois de um dia a ver a paisagem verde a branca Suiça, faltava-me um dia para voltar a Portugal. Apanhava o comboio do dia seguinte em Paris às 16 horas ou estava às 22 horas em Irún, já em Espanha, perto da fronteira gaulesa. Sobravam-me 24 horas para tentar ver algo.
Versalhes era a hipótese mais forte no caso de ir para Paris. A enorme dimensão do palácio levou-me a adiar a visita para outra altura. Peguei no mapa, olhei para as cidades perto dos Pirinéus e tentei encontrar algo que me dissesse algo. Encontrei Carcassone e Lourdes.
Às sete da manhã do meu último dia de viagem, estava na primeira cidade. A localidade é pequena e a atracção principal vê-se rapidamente. A chuva que pela terceira vez num mês voltou a molhar-me, acelerou o passo.

Todos os grandes países católicos têm o seu grande centro de peregrinação. Portugal tem a Nossa Senhora de Fátima. Na Polónia venera-se a Virgem Negra de Czestochowa. Em Itália caminha-se até ao Vaticano. Em França as peregrinações vão dar a Lourdes.
Já conhecia Fátima. Há três anos, tinha sido barrado à porta da Capela Sistina no Vaticano. O motivo foi falta de roupa. Não estava nu, apenas de calções e com uma t-shirt sem mangas num dia de Agosto com muitos graus na capital italiana. A Santa polaca nunca passou pelas minhas prioridades num país que tem muito mais para ver. Porque não conhecer agora Lourdes? Aproveitava, e comprava as “micro-prendas” da praxe para a gente cá de casa, que gosta destas coisas de santos.

Não sou católico, nem me preocupo em saber se há ou não Deus – apesar de me inclinar para a resposta negativa. Se ele existir, não será vela a mais ou a menos que me irá salvar das chamas (que até devem ser quentinhas) do Inferno. Apenas olho para o fenómeno do ponto de vista sociológico.

Já estava à espera de encontrar em Lourdes algo parecido com Fátima. As histórias são muito semelhantes e têm quase 60 anos de história a separá-las. Se em Portugal a Virgem Maria apareceu a três pastorinhos, em França foi apenas uma a guia de ovelhas escolhida. Todos acabaram por ser considerados santos. Tal como Lúcia, em vida também Bernadete, a pastora gaulesa, seria freira.
No caminho para o santuário, a terceira comparação. Tal como em Fátima, a cidade parece um centro comercial. Em cada prédio, um hotel. As lojas de recordações ou outros produtos menos católicos enchem as ruas.
Comecei a procurar algo para oferecer lá em casa. Depois de ver pequenos frascos de vidro vazios à venda que pensava serem para pôr perfume, comecei a estranhar ver frascos de plástico com a forma da Santa e até garrafões de cinco ou mais litros com a sua imagem.
Mentalmente, fiz um mais um igual a dois, e lembrei-me que a Virgem de Lourdes tinha aparecido numa gruta. Estamos quase no meio dos Pirinéus e ao lado existe um rio. “O santuário deve ter alguma fonte de água santa”, pensei.
“Eau de Lourdes, garantie d`origine”, confirmou-me depois um dos pequenos frascos que encontrei (vazio) numa das lojas da especialidade. Comparei preços e acabei por fazer as compras para levar para casa – três frasquinhos de vidro para encher na fonte santa e umas pastilhas de essências naturais com Lourdes escrito – no maior supermercado de coisas santas da cidade. Ao meu lado na caixa estava uma freira com um cesto cheio de garrafas de plásticos com a forma da Virgem de Lourdes.


A organização do Santuário é muito parecida com a de Fátima. Também há espaço para as velas, que supostamente prolongam a oração dos fiéis, mas todas têm a tradicional forma cilíndrica, sem a diversidade de formas corporais encontrada no santuário português. O ponto forte de Lourdes está na água. Ao lado da basílica, um corredor de torneiras com a inscrição “Água da gruta”. Com pequenos frascos, garrafas de plástico, garrafões de água ou vinho e até termos, tudo serve para beber ou levar o precioso líquido para casa. O banho nos balneários ao lado também é uma opção.

Etiquetas: ,

Ao motorista anónimo do 93 de Bratislava

São dois os grandes responsáveis pelas duas fotografias que vêem no meio deste texto. O meu dedo indicador, que carregou no botão da máquina até fazer click e que juntamente com as minhas pernas subiu ao interminável e sinuoso monte por cima do Castelo de Neuschwanstein, na Alemanha. E um condutor de autocarros de Bratislava, na Eslováquia.

Talvez por preguiça, durante todo o dia anterior não acreditei naquilo que os meus olhos já tinham visto: a pequena capital eslovaca tinha duas estações de comboios de onde partiam comboios internacionais. Quinze minutos antes da hora marcada, estava na estação errada.

O plano inicial era sair de Bratislava ao início da noite para de manhã estar em Innsbruck, na Áustria. Já na capital eslovaca, lembrei-me de Neuschwanstein. Faltava-me três dias para estar em Lisboa e se não fosse agora, não iria lá tão cedo.
Neuschwanstein é, juntamente com Sintra (o Palácio da Pena, de Monserrate ou a Quinta da Regaleira), os Açores ou o Monte de S. Michel (em França), um daqueles sítios que não parecem deste Mundo, mas sim saídos de um conto de fadas. Pode ser um sítio de plástico, como me disseram, que não tem nada a ver com a vida real. Mas se existe, quero vê-lo.
“Castelo da Cinderela” é também o nome dado por alguns a este edifício construído no fim do século XIX por um rei da Baviera que apenas lá viveu meia-dúzia de dias para depois ser considerado louco para exercer as funções reais. Quanto a mim, vi Neuschwanstein pela primeira vez num puzzle que me levou dias a concluir. “Isto é giro, mas nunca lá vou pôr os pés”, pensei na altura. Nem sabia onde aquilo ficava e o estranho nome do local perdeu-se com o tempo.
Um dia, não sei como, descobri que Neuschwanstein ficava algures na Alemanha. Noutro, perguntei o nome exacto a um luso-alemão. Uma rápida pesquisa na Internet explicou-me como chegar lá. O Castelo da Cinderela não fica no fim do Mundo, mas no “cu da Alemanha”, encravado nos Alpes, ao lado das fronteiras com a Áustria e Suiça.
Quando há uns meses escolhi os principais objectivos da viagem, Neuschwanstein estava lá. Mas nunca mais me lembrei. Em Bratislava, a ideia voltou-me à cabeça. Optei por deixar para trás Innsbruck, e ir directamente para o castelo da Baviera.

Depois da confusão com as estações de comboio de Bratislava, só me restavam duas opções: tentava o milagre de chegar à outra ponta da capital eslovaca em 15 minutos; ou fazia uma mudança de comboio também em tempo recorde em Viena. Comecei por tentar a primeira opção, sabendo que se esta falhasse, não teria tempo nem coroas eslovacas para voltar à estação inicial e ir nesse dia para a Áustria.
Como me indicaram, teria de apanhar o autocarro 93. Encontrei-o rapidamente, mas estava parado como em qualquer estacão terminal com as luzes apagadas e o condutor lá dentro a fazer contas para iniciar mais um percurso que já terá feito milhares de vezes.
Bati à porta e o condutor, de cerca de 50 anos e que à primeira vista parecia pouco simpático, abriu-a, sem me mandar, como seria de esperar, para a paragem onde os outros passageiros esperavam pelo autocarro.
O homem não sabia uma palavra de inglês. Mostrei-lhe o papel com o nome da estação de comboios e a hora a que tinha de lá estar. “Problem, problem, problem”, repetiu várias vezes abanando a cabeça. Fez contas mentais com os horários dos autocarros de Bratislava e um desenho num papel que me levou a pensar que queria que a meio trocasse de autocarro. De repente, viu que não estava a perceber nada e diz “site, site, site…”. Perante a minha dúvida em sentar-me ou ir embora e optar pela segunda opção de tentar uma mudança de comboio em Viena, repetiu insistentemente “site, site, site…”. Renitente, confiei no anónimo motorista do 93 de Bratislava.
Sem me pedir qualquer dinheiro pela viagem, passado um minuto o autocarro arrancou. Depois de uma dúzia de paragens, apontou-me para descer e ir em frente por um túnel. Estava ali a estação.
Faltava um minuto para o comboio partir. Corri como um louco com uma mala de não sei quantos quilos às costas. As portas estavam fechadas. Um polícia faz-me sinal com a mão para a direita e diz “passport”. A porta de entrada para a velha Europa dos 15, onde o controlo de fronteiras já não existe, estava ali. Às 5 da manhã estava em Innsbruck. Às 9 em Neuschwanstein. À tarde tirava estas fotos.

Como se reconhece um português?

Fim de tarde agitado em Berna, Suiça. Faço tempo para apanhar o próximo comboio para Géneve numa das ruas mais agitadas da cidade. Milhares vão para casa depois de um dia de trabalho. Dois jogam “xadrez de rua”. Uma pequena multidão, maior que a assistência de alguns jogos da SuperLiga (agora Betandwin), vê a partida, dando palpites ou mandando bocas.
Entre os dois jogadores, um chamou-me a atenção. Quase 50 anos, baixo, boné na cabeça, calças e casaco de ganga com uma t-shirt preta e uns sapatos da mesma cor. Cabelo escuro, apesar de já branco, e uma pele escura entre o europeu comum e o norte africano. Um aspecto e andar descontraído, apesar da tensão que se lhe vê na cara devido ao jogo.
Definitivamente, o xadrez não é um desporto tipicamente português. E os emigrantes nacionais andam normalmente em grupos de dois e só se dão entre eles. Mas apesar de só lhe ver sair alemão da boca, para mim, aquele homem era “tuga”.
Meia dúzia de observações depois, a confirmação. Não pela existência daquele instrumento multiusos nacional chamado unha grande do dedo mindinho. Esse, também lá estava, mas só reparei mais tarde. “Um homem difícil de morrer”, de Monte Walsh, era o título do livro que o jogador de xadrez tinha no bolso das calças.

A história anterior não é rara. No dia anterior, de passagem por Viena, apenas pela conjugação da cara, corpo e roupa, reconheci outros dois portugueses. Em Neuschwanstein, Alemanha, depois de uma conversa de um minuto em inglês com um casal sobre indicações para um caminho, comecei a reparar no sotaque típico nacional e na conjugação de tudo aquilo que para quem não é antropólogo será difícil de explicar, mas que se identifica.
Quando o prognóstico falha, o mais normal é estarmos perante um espanhol ou, caso mais raro, um brasileiro. Mas os portugueses têm, apesar das excepções, algo que os distingue, apesar de ser difícil perceber exactamente o quê.
Nunca fui emigrante. O mais próximo que estive foi estes meses de ausência do território nacional, com semanas sem falar a língua de Camões, ouvindo línguas de que se percebe pouco. Sem ser muito tempo, fica uma sensação estranha cada vez que se encontra alguém que fala a nossa língua. Seja velho ou novo, homem ou mulher, uma pessoa interessante ou desinteressante com quem normalmente nunca falaria, e até um brasileiro, é como se durante momentos estivesse de novo em Portugal, sem nunca verdadeiramente o estar.

C. Ronaldo e D. Rosa

Futebol e fogos. Fogos e futebol. Dificilmente se fala de outra coisa quando o assunto é Portugal na conversa com qualquer estrangeiro.
“A tua casa está bem?”, perguntou-me um coreano que conheci algures entre a Dinamarca e a Alemanha. Os incêndios que todos os anos arrasam a floresta nacional parecem ser mesmo a única coisa que passa pelos jornais internacionais sobre Portugal.
Quanto ao futebol, as camisolas nacionais (falsas) continuam a marcar presença nas lojas da especialidade. Mas Figo e Rui Costa já passaram à história. Cristiano Ronaldo, seja com a camisola das quinas ou do Manchester United, é o único com presença garantida em qualquer montra futebolística.
Para além do futebol e dos vinhos nacionais, pouco ou nada se encontra pela Europa “made in Portugal”. Pelo menos de forma visível. No centro histórico de Praga, curiosamente, comecei a ouvir fado. Sou o maior dos analfabetos musicais que conheço e só quando entrei percebi de quem era a voz, depois de ver um papel a dizer “Está a ouvir Marisa”. Resolvi explorar as prateleiras. Espanto dos espantos, encontrei dois CD`s, vendidos a 590 coroas checas cada (cerca de 20 euros), da Dona Rosa. A mesma cantora cega que encontramos todos os dias na Rua Augusta.

Papel em Praga

Por norma, aceito todos os papéis que me dão na rua. Gosto de ler tudo, mesmo que não perceba uma palavra do que está lá escrito, sejam anúncios a excursões a algo desinteressante, bruxas, créditos ou algo para aumentar a potência sexual. Em Praga, tive que esquecer esse “vício”.
A cidade é fantástica. Mas está cheia de turistas. E as ruas estão recheadas, de cinco em cinco de metros, de alguém a tentar apenas livrar-se do molho de papéis que tem na mão. Para não sair da capital da República Checa vergado pelo peso de quilos de papéis na mão ou com a consciência pesada de os ter largado para o chão, passei a recusá-los, tal como quase todas as pessoas que passavam na rua, criando assim uma segunda fase no processo comercial, que já não passa apenas por convencer o cliente a comprar algo, mas também a aceitar um papel a anunciar o que quer que seja.

No labirinto Soviético

Depois do turismo nazi, virei-me para o turismo comunista. “Experimente o presente de Estaline a Cracóvia no distrito comunista de Nowa Huta”, dizia o panfleto da empresa “Comunism Tours”.
A ideologia da foice e do martelo está morta. Alguns poderão continuar a sonhar – legítima e romanticamente – que um dia ela será implementada numa qualquer parte do mundo, mas o mais provável é que isso nunca passe daquilo que realmente é: um sonho.
O fim daquilo a que se chamava comunismo no Leste europeu trouxe uma nova espécie de turismo que se baseia no recordar do tempo em que a região aparecia a vermelho no mapa-mundo e por detrás da Cortina de Ferro.
T-shirts com a foto do Lenine. Chapéus tipo russo com a foice e o martelo como símbolo. Camisolas com a inscrição CCCP. Tudo serve para vender um passado que já não existe.
As excursões a sítios criados pelo comunismo são outra forma de “turismo vermelho”. Fiz umas perguntas no posto de informação de Cracóvia sobre o que era Nowa Huta. Lá me explicaram que foi uma nova cidade, criada e planeada ao lado de uma zona industrial e a poucos quilómetros de Cracóvia, que continuaria a ser o centro intelectual da região. Em Nowa Huta, viveriam os operários. Uma espécie de “Chelas comuna”, pensei eu, depois de ver os desenhos dos prédios.
Esqueci a empresa que fazia excursões para a zona. Não gosto que me guiem e não queria pagar os 119 zlots (mais de 20 euros) pedidos. Sobrava-me um dia em Cracóvia e meti-me à estrada. A pé, segui o caminho que tinha visto num mapa da cidade de João Paulo II.
O percurso acabou por ser muito mais longo do que o previsto: cerca de uma hora e meia pelos subúrbios de Cracóvia. Chegado a Nowa Huta, não fiquei surpreendido. Os prédios não eram tão grandes como os de Chelas (cinco ou seis andares, no máximo), mas eram contínuos, como se tivessem deitado os prédios daquela zona de Lisboa, colando-os uns aos outros em filas de blocos intermináveis. Não queria ter andado tanto para voltar logo para trás e fui-me metendo pelas ruas. Encontrei uma tabuleta com um mapa de Nowa Huta e segui as indicações. Daí a 500 metros, devia encontrar outra. Mas não encontrei. Estava perdido.
Só a partir daí me apercebi do estranho local onde tinha vindo parar. Sem qualquer ponto de referência, tudo era igual. As portas das casas. As janelas. Os quiosques de jornais, fruta ou outros produtos sempre plantados de x em x metros. As árvores. Os prédios sem fim à vista, sempre cinzentos da sujidade dos anos. E o chão, sempre com os mesmos quadrados de cimento, mais ou menos esburacados conforme o uso e que pareciam nunca ter visto água. Até as pessoas pareciam ser sempre as mesmas. Estava perdido no labirinto soviético.
Hora e meia depois, encontrei o caminho de volta para Cracóvia e deixei para trás esta verdadeira fábrica de produção e formatação de pessoas.

Fábrica de matar gente

O maior cemitério do Mundo não tem urnas. Nem placas com fotos, nomes ou datas de nascimento e morte daqueles que, afinal, nem estão enterrados.
Chamar campo de concentração ao mega-complexo de Auschwitz é pouco. Prefiro chamar-lhe “fábrica para matar gente”, de forma organizada e meticulosa.

Ninguém sabe bem quantos morreram em Auschwitz – nome alemão para uma terra polaca chamada Oswiecim. Estima-se que o número rondará os 1,5 milhões. A maioria, nem chegou a dormir uma noite numa das centenas de barracas dos vários campos de concentração da zona que eram sobretudo campos da morte. Chegavam e iam logo “tomar banho”. Os vários crematórios ficavam logo ao lado de uma das várias câmaras de gás. Prático, rápido e barato, como se exige a qualquer fábrica eficiente.

Entre os turistas, alguns resistem ao dilema moral de tirar uma foto ao lado do maior cemitério mundial. Outros sorriem para a objectiva. Pelo meio, poderão ver, entre outros factos interessantes (e horríveis), quatro toneladas de cabelo cortado às vítimas femininas para vender nas fábricas têxteis. Óculos, sapatos, escovas, malas ou roupa, tudo era aproveitado.
Mas visto de fora, o campo de concentração principal de Auschwitz, até parece um sítio “simpático” para viver. Com relva, edifícios de tijolo e uma sensação de segurança transmitida pelas várias barreiras de arame farpado à volta. Ninguém entra, mas também ninguém sai. Birkenau, a três quilómetros de distância, é bem mais impressionante.
Imaginem-se no meio de um deserto. Com um caminho-de-ferro pelo meio e centenas de grandes barracões aparentemente para cavalos a perder de vista. Ao todo, um tamanho que daria para receber 150 campos de futebol. Estão em Birkenau.
Para quem chega ao fim da tarde a esta fábrica de matar gente e percorre o campo de concentração já com a noite no céu, sem luz em qualquer uma das lâmpadas que antes estariam acesas para prevenir fugas, quase que se sente os soldados nas plataformas de vigia ou algum dos seus cem mil prisioneiros a murmurar nas barracas.
Para muitos turistas, só faltam as pipocas à porta.

quarta-feira, outubro 05, 2005

Os pedintes da Europa

Depois de uma noite a tentar dormir algumas horas, deitado em dois bancos de um autocarro quase vazio, cheguei a Varsóvia. O objectivo era chegar, ir à estação de comboios perguntar pelo próximo comboio para Sul e arrancar o mais rapidamente possível.
Mas encontrei um francês que falava pelos cotovelos. No meio de tanta conversa, garantiu-me que já tinha estado em Varsóvia e que o principal da cidade se via numa manhã. "Porque não?", pensei eu: "Não tenho nada marcado mesmo". Depois de comprar todas as revistas de puzzles e jogos que havia no quiosque mais próximo na língua de João Paulo II, o francês acompanhou-me nesta curta visita à capital polaca.
O edifício mais fotografado da cidade é, basicamente, um grande mamarracho comunista. E a parte velha, além de pequena, tem uns 50 anos e é a cópia do que existia antes da II Guerra Mundial. A ida a Varsóvia permitiu ainda que visse um polaco com um camisola antiga do Benfica (ainda da Hummel…), outro a sacar um resto de Pizza do lixo para logo comr, e começar a observar o estranho fenómeno de ser o pequeno Fiat 126p, da década de 1970, o carro mais visto nas estradas do país.
Pelo meio, fui falando com o francês e acabei por descobrir que era jornalista. Como a profissão está difícil em França (onde é que eu já vi isto?!?!), a sua ocupação principal é inventar jogos para revistas.
Acabámos a discutir a integração dos países de Leste na UE e como estes ainda são um “mundo à parte” no espaço comum europeu, onde o controlo de fronteiras persiste e onde a pobreza é muito mais visível. “Agora eles estão a desenvolver-se, mas à custa do nosso dinheiro”, concluiu o francês, numa frase que também me fez sentir mais um pedinte da União Europeia.

Riga e Vilnius

Numa terra praticamente sem comboios, onde todo o alcatrao parece estar a ser trocado e onde nao existem auto-estradas, voltei, 10 anos depois da ultima viagem do genero, a ter de andar de camioneta. Desta vez para sair da capital da Estonia. Trezentos quilometros, seis horas a olhar para uma janela e muitas garrafas de cerveza e vodka depois bebidas por dois dos meus vizinhos da frente (ja completamente bebados), cheguei a Riga.

Depois de Talin, esperava encontrar algo semelhante. "A Estonia e a Letonia sao paises vizinhos. Os nomes ate acabam da mesma forma e ambas as capitais estao perto do mar", pensei eu. Enganei-me.
Os edificios grandes, cinzentos ou praticamente a cair aos pedacos a volta da cidade, como se a segunda guerra mundial tivesse sido ha dois dias. Os vagabundos a vasculhar os caixotes e os pedintes na rua. A cara desconfiada das pessoas com quem me cruzava e que nunca falavam ingles. As abundantes casas de strip com um tipo que parecia sempre um chulo ou um membro da Mafia russa a porta a convidar tudo o que era homem para entrar. E ate os miudos com cartazes ao pescoco a anunciar o local onde se podia encontrar uma mulher a despir-se por perto.
Tudo isso me fez sentir que estava, finalmente, numa terra que ha 15 anos se chamava Uniao Sovietica, e que em Talin apenas tinha visto numa moeda com a cara do Lenine que tinha comprado a uma velhota que na rua vendia recordacoes do passado comunista.

Depois do choque inicial de chegar a uma cidade "diferente" daquilo que tinha visto ate aqui, comecei a habituar-me. Na tarde em que cheguei, vi tudo o que (arquitectonicamente) havia para ver. Na manha seguinte, ja tinha passado varias vezes pelas mesmas ruas e pracas. Mas a segunda-feira trouxe mais gente para as ruas e tornou a cidade mais interessante. Os homens com ar de chulos desapareceram ou perderam-se na multidao. As mulheres pareciam tao bonitas como em Talin. Os musicos das esquinas e as velhotas que ao som de um radio dancavam para reunir uns trocos, animavam as ruas. Restava-me esperar pela camioneta da noite para a Polonia, aproveitar o bom tempo para apreciar melhor a cidade e os precos baratos de uma terra onde um bolo custa 25 centimos.

Mas nao gosto de estar parado. E estava com vontade de passar pela capital da Lituania, que tinha quase a certeza que conseguia ver em meia-duzia de horas como aqui.
Vou, nao vou... vou, nao vou... à ultima da hora decidi ir mesmo. Guardei umas moedas para recordar e gastei as outras numa porcaria qualquer. O homem que que me vendeu o bilhete da empresa de autocarros encarregou-se de por o ultimo postal da terra no correio. às 13 horas sai de Riga. Pouco depois das 18, estaria em Vilnius, onde me esperava uma nova camioneta uma hora antes da meia-noite. Cinco horas para ver a cidade.

Trezentos quilometros e muitos solavancos nas estradas em obras depois, cheguei a Vilnius. Sem informacoes turisticas, sem saber nada do que ver na cidade e sem gente que falasse ingles, demorei uma hora para encontrar um sitio onde estacionar a mala. Mais meia para encontrar alguem que no meio do seu lituano percebe-se que queria um mapa da terra. Sobravam tres horas e meia.
Trinta minutos depois, percebi onde estava geograficamente e o que tinha de andar para ver o minimo da capital da Lituania, que fora do centro tambem me fazia sentir estar na ex-Uniao Sovietica.
Numa terra onde os sinais para os peoes sao como os dos carros (sem homenzinho verde ou vermelho, de pernas abertas ou fechadas), duas horas acabaram por ser suficientes para ver Vilnius. Os edificios principais (que eram poucos), quase todas as suas 22 igrejas, os seus pedintes, uma anormal quantidade de carros modificados e o maior numero de limusines que encontrei em tao pouco espaco de tempo.

terça-feira, outubro 04, 2005

Deus ou o acaso da genetica

A cidade esta cheia de turistas. é o centro urbano medieval mais bem preservado da regiao, garantem os roteiros turistico. No terreno, tudo o que ha para ver em Talin percorre-se numa manha. E, mesmo assim, a um ritmo muito lento.
Mas se pouco ha para ver na capital da Estonia, porque é que os turistas nao a largam? Duas palavras respondem rapidamente: alcool e mulheres sao as principais razoes que trazem tantos suecos, filandeses e sobretudo ingleses para este pequeno pais Baltico.

Sobre a primeira razao, nao posso falar muito. Nao sou especial apreciador e apenas posso dizer que comparado com os precos daqueles ricos paises europeus (que nao Portugal), por aqui beber fica mesmo mais barato.

Antes de decidir atravessar o Mar Baltico de novo, desta vez para Sul, tinham-me avisado que as estonianas eram lindas. "Ok", pensei eu. "Depois das suecas e norueguesas, nada me vai surpreender". Enganei-me redondamente.
Neste pequeno pais, encravado entre a Europa Central, do Norte e Russia, onde mais de um terco da populacao fala algo que nao o estoniano, Deus ou o acaso da genetica da mistura de racas, criou das mulheres mais interessantes do Planeta.
Nao digo que sao melhores do que as vizinhas da escandinavia. Mas se ali so ha louras, por aqui ha de tudo um pouco. Louras, morenas ou ruivas. Altas, medias ou baixas. Mais ou menos produzidas. E ate a idade parece nao as afectar tanto como por outras paragens.
Nas ruas, elas parecem ser muito mais do que os homens. E o dificil é encontrar uma mulher feia. Trabalhar nas obras em Talin sera, provavelmente, a profissao mais atarefada do mundo...
Alem disso, garantiu-me um sueco de origem indiana que encontrei na cidade, na Estonia "elas cuidam-se. Nao jantam para se manter na linha. Na Suecia nem se preocupam com isso".
Se a historia e verdade ou nao, nao sei. Os resultados, esses, estao bem a vista e servem, pelo menos, para atrair turistas e dinheiro para este recem membro da Uniao Europeia, que parece ser o mais desenvolvido dos tres pequenos paises Balticos. Como me explicou um australiano que viajava ha meses: "Estou farto de monumentos e cidades bonitas. I want pussy!!!"

domingo, outubro 02, 2005

Na tropa em Talin

Nunca fui a tropa. Apos um dia de inspeccao no quartel da Ajuda, com testes psicologicos estupidos e um exame medico que apenas serviu para me por de boxers num cubiculo com mais 20 gajos para depois me perguntarem se me sentia bem, chegaram a conclusao que tinha estudos a mais para cumprir o servico militar obrigatorio.
Quando era puto, ainda pensei em ir para a Marinha ou Forca Aerea. Mas acabou por ser na Estonia que tive a primeira experiencia militar.

Por norma, ha um tuga em cada parte do mundo. Em Talin, encontrei 200 portugueses e duas portuguesas. Ao chegar de barco, vindo de Helsinquia, saltou-me a atencao uns oito navios de guerra atracados no porto. De varios paises, entre eles um com a bandeira vermelha e verde.
Na madrugada seguinte, as 5 da manha, quando regressava ao quarto, comecei a ver grupos de portugueses nas ruas. Ao terceiro, perguntei se eram do barco. "Nao", foi a resposta: "Aquilo e um navio".

Em cinco minutos de conversa, com os olhos vermelhos da bebida, explicaram-me que andavam ha quase seis meses no mar, nos exercicios da Nato no Atlantico. Cabo Verde, Dinamarca, Noruega ou Polonia tinham sido algumas das ultimas paragens. O convite para almocar no navio surgiu de seguida e acabou por tirar-me as duvidas sobre se abandonava ou nao Talin de manha.

Depois de duas revistas com detector de metais pela tropa da Estonia que guardava os navios e de passar pelo meio de uma fragata alema, la consegui chegar ao barco tuga.
No bar do navio, tive a dificil tarefa de explicar que nao bebia alcool. A seguir, veio o almoco e uma visita guiadissima a maquina de guerra nacional, equipada com internet para toda a guarnicao e TV Cabo com todos os canais em qualquer parte do Mundo. A partir de ontem sei quanto custa um missil, como e a sala em que se planeia a guerra ou como e que o ar dentro de uma fragata continua respiravel mesmo num ataque nuclear.

A meio da tarde, comecou a segunda fase do meu primeiro dia de tropa: uma visita a cidade para beber e ver gajas. Depois da primeira cerveja - que ficou a meio -, perceberam que nao gostava mesmo daquilo. Mesmo assim, nao escapei a beber algo saido de uma garrafa qualquer local com o almirante que comanda a Nato no Atlantico e que, garantem-me, adora os portugueses e o vinho nacional.

Ao fim da noite, quando ia para o quarto, voltei a pensar em ir para a Marinha.

O Correio da Manha e um Kolmi

Assim comecou a historia que se segue: pelo jornal mais lido da imprensa portuguesa e com um servico que as empresas de telemoveis nacionais inventaram para levar alguem que nao tem dinheiro ou nao o quer gastar, a gasta-lo atraves de outro.

Ze Manuel - o nome verdadeiro nunca cheguei a perguntar - foi padeiro durante 25 anos. Ao fim de milhares de noites a amassar pao, abandonou a profissao. Nao que nao houvesse trabalho. Apenas se fartou de ganhar 350 euros ao fim do mes.
No comboio que no passado dia 14 de Setembro saiu de Lisboa para Franca - o Sud Express ja nao chega a Paris -, Ze era uma das muitas pessoas que poderiam perfeitamente encaixar neste mesmo comboio ha 30 anos, quando foi construido em 1974 na fabrica da Sorefame na Amadora. As carruagens, a que chamariam o "Comboio da Liberdade", continuam iguais as que antes do 25 de Abril comecaram a levar emigrantes para o resto da Europa e trouxeram Mario Soares do exilio depois da Revolucao.
Nao ha qualquer sistema de som em todo o comboio. Ninguem diz em que estacao vamos e as cabecas continuam a aparecer ao vento a janela durante quase todo o percurso. Os bancos castanhos de algo que parece pele continuam iguais. O sino que avisa que o bar abriu para quem queira tomar o pequeno almoco continua a ser abanado todas as manhas ao longo do comboio por um trabalhador da CP que, nao fosse a idade, tambem poderia estar naquele posto ha 30 anos.

Quarenta e tal anos. Camisa branca meia aberta com os pelos do peito de fora. Sapato preto bem engraxado. Calcas de ganga tipicas. Cabelo bem penteado com risco ao lado. Bigode aparado ate ao mais infimo pormenor. Mala preta. Apenas o telemovel Nokia com uma capa rosa e um desenho de uma mulher nua destoava do cenario onde poderiamos encaixar Ze Manuel no Sud Express em 1974.
Nascido perto de Viseu, com sotaque carregado e usando as asneiras como virgulas (apesar de viver em Lisboa ha decadas), Ze nunca tinha feito uma viajem tao grande de comboio. Ha umas semanas foi ele, juntamente com um emigrante mais velho e um frances que tinha cindo ao Barreiro visitar a namorada, um dos meus colegas de viajem para terras gaulesas.

Depois de abandonar a arte do pao, o ex-padeiro decidiu abracar a profissao que desse mais dinheiro. Na pratica, as obras. Mas nao em Portugal. Ai, garante, "esta tudo ocupado por pretos e ucranianos que trabalham por tuta e meia". Neste verdadeiro domino dos empresarios que querem pagar o minimo possivel e os trabalhadores que querem receber o maximo, Ze Manuel teve que emigrar. Mas nao em definitivo como antigamente. Faz o que aparece. Ja esteve na Suica - para onde foi de aviao. Agora ia para Espanha, mais precisamente Burgos.
"Vi um anuncio no Correio da Manha a pedirem pessoal para trabalhar. Mandei um Kolmi e o cabrao do homem respondeu-me. Pediu mais dois gajos, mas a ultima da hora o unico filho-da-puta que arranjei desapareceu. Amigo nao empata amigo, e vim sozinho", conta o novo emigrante portugues.
Para tras deixou a mulher de quem se despediu da janela do Sud Express na estacao de Santa Apolonia e que mais tarde lhe enviou o resultado do jogo do Benfica dessa noite, e os filhos, que estavam a comecar o ano escolar.
As duas da manha chegou a Burgos. A sua espera contava ter um sitio para dormir e o homem que no dia anterior lhe respondeu ao Kolmi.