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segunda-feira, setembro 25, 2006

E os súbditos foram ao rei e mostraram a sua obra de arte.

domingo, setembro 24, 2006

Prédios

Ontem, fui ao Parque das Nações. Nada de novo, não fosse o facto de ir no lado do passageiro do carro e ter demasiado tempo (parado em filas) para apreciar a magnífica paisagem erguida (e ainda em crescimento) num espaço que há oito anos recebeu a Expo 98.
Numa palavra, o Parque das Nações é hoje sinónimo de «prédios». Em cima uns dos outros, com cada vez menos espaço pelo meio e com demasiados carros à volta. Colados a bombas de gasolina ou espaços marcantes da antiga exposição mundial.
Gostava de saber se a culpa é do Parque das Nações, que nos últimos anos geriu o espaço, ou das Câmaras de Lisboa e de Loures. Só sei que lhes agradeço a destruição de um espaço que chegou a ser agradável.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Sporting queima idosa

Reportagem TVI: idosa queimou a casa, as mãos e as pernas depois de acender uma vela a Santo António pela vitória do Sporting contra o Inter de Milão.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Sem sangue falso e com uma bola nos pés

Gosto de wrestling. Sei que aquilo é uma fantochada, viciada à partida, mas aceito as regras do jogo e acho piada ver dois bacanos a darem (ou fazerem que dão) cabo do focinho um do outro. São os meus Morangos com Açúcar ou a minha Floribela.
Também gosto de futebol. E sempre achei os protestos dos adeptos contra os árbitros um exagero, apenas compreensível à luz da paixão que levanta um desporto tão imprevisível e pouco racional, em que a bola gira para qualquer lado e em que o mais fácil é culpar o homem do apito em vez da sorte ou o azar.
Os últimos dias têm destruído esta ideia. Todos os dias leio provas novas – escutas que parecem indesmentíveis e que nascem como cogumelos. A meio, uma novidade, não escrita nas leis da bola e confirmada por um dirigente desportivo: é comum escolher árbitros entre equipas para jogos da Taça. Quatro em cada cinco dos principais juízes do futebol português são suspeitos de terem feito favores a clubes – sem sangue falso ou acrobacias espectaculares. Ninguém é acusado e a lei que poderia, numa hipótese muita remota, punir alguém por enganar alguns milhões de portugueses que gostam de bola, arrisca-se a não servir para nada, por razões formais que nunca antes se questionaram em 15 anos de existência.
A FIFA entretém-se a ameaçar Portugal de exclusão das competições europeias porque um atleta amador jogou como profissional.

domingo, setembro 10, 2006

Roteiro fotográfico de viagem (com algum texto pelo meio)

«Se esta gaja demora tanto tempo a vir-se como a tirar um bilhete, está bem fodida. O gajo vem-se vezes sem conta...»
Em bom (ou mau) português, última frase ouvida em território nacional, por um senhor feliz e contente com o "rápido" serviço da CP na estação do Oriente.
Biarritz: praia.












Bordéus: cidade.
















Marselha: cheiro a Magrebe.

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Nápoles: o arrebatador (ou destruidor) caos (des)organizado.

Aceleras por todo o lado, a buzinar, num trânsito louco, sem regras escritas, onde carros de bebé atravessam cruzamentos na diagonal à frente de automóveis que parecem achar tudo normal. No passeio, em qualquer canto com mais de um metro quadrado, miúdos correm atrás de uma bola, quase sempre laranja, de plástico e a dizer «Super Santos».
Num parágrafo, apresento-vos Nápoles. Uns detestam-na. Outros amam-na. Se para o primeiro sentimento é fácil encontrar explicações (bastam os assaltos), para o segundo a justificação é difícil.
A cidade não tem espaços verdes. Os horários não servem para nada. O trânsito é caótico. As buzinas não param. Os italianos falam alto demais. Famílias inteiras ocupam motoretas, sem qualquer sentido de (in)segurança. Motociclitas têm amenas cavaqueiras ao telemóvel ou falam calmamente com o companheiro do lado. Em qualquer lado, até a peões, a polícia faz operações stop.
Tudo isto é estranho. Mas tudo isto parece ser a verdadeira Itália, que desapareceu do Norte há muitas décadas atrás.

Pompeia: muita história, muita pedra.











Nápoles-Sícilia: Os comboios impossíveis de alcançar.

San Gimignano: Manhatan medieval. Turistas.
Ancona-Bari: no chão.
Matera: Homens das cavernas. Suor.











Sicília: no barco.
















Palermo: máfia sem mafiosos.
Vulcano: onde o mar queima os pés.




















Stromboli: longe
«”Onde estamos?”, perguntou meu tio, que pareceu muito irritado por ter voltado à superfície da terra. (…) – “Tentemos o italiano”, retomou, e disse nessa língua: “Dove noi siamo?” Nada de o garoto responder. “Vamos, fale!», gritou o meu tio, que começava a ficar nervoso e sacudia o menino pelas orelhas. “Come si noma questa isola?” “Stromboli”, respondeu o pastorzinho, que escapou das mãos de Hans e correu para a planície dos olivais. O Stromboli! Que impacto esse nome inesperado provocava em minha imaginação! Estávamos em pleno Mediterrâneo, no meio do arquipélago eólio, mitológico, na antiga Stronbole, onde Eólio mantinha os ventos e as tempestades acorrentados. E aquelas montanhas azuis, que se arredondavam no levante, eram as montanhas da Calábria! E o vulcão que se erguia no horizonte sul era o Etna, o selvagem Etna.»

in Viagem ao Centro da Terra, Júlio Verne


Há uns anos – assim não tantos – foi este o meu primeiro contacto com o Stromboli. Mais tarde, numa curtíssima volta de um dia pela Sicília, descobri que era acessível. Prometi lá voltar.
Mais de 1500 dias depois, chegados a Milazzo, porto mais perto das ilhas Eólicas, era tarde. O barco já tinha partido e a viagem demorava umas quatro horas. Restava ver Palermo e voltar no dia seguinte.
Depois de algum sono em Messina, voltámos a Milazzo. Chegados à estação, um tipo nitidamente não-italiano, de barbas compridas e ar meio louco de viajante de muitos quilómetros, parecia meio perdido. Os “taxistas” italianos, com carros perfeitamente comuns de qualquer mortal não profissional do volante, voltaram a vender uma rápida viagem até ao porto, por “módicos” 12 euros. Aproximámo-nos do estrangeiro para dizer que podia evitar a “boleia”. Oitenta e cinco cêntimos chegavam para apanhar um autocarro que passaria dentro de minutos.
Sentados no chão, explicou-nos que ia às Eólicas, mas a Vulcano, a ilha mais próxima da Sicília e a única que permitia a escalada a um vulcão sem guia. Stromboli ficava muito mais longe, demorava muito mais tempo a alcançar e era mais caro. Mas tinha lava, que só seria visível de noite, e uma forma única de vulcão a sair de dentro de água.
Nesse dia, tínhamos de sair da Sicília para abandonar Itália, onde comboios loucos, atrasados e a abarrotar já nos tinham feito perder tempo demais. Vulcano tinha a grande vantagem de permitir passar o dia todo na ilha, a escalar o vulcão e tomar banhos de lama. A custo, por não ter a carga simbólica do Stromboli, foi a solução escolhida. A menos mítica, mas mais racional.
Canadiano a trabalhar na Suiça, o estrangeiro com ar “meio louco” andava há meses a viajar pelo Mediterrâneo – norte de África, Médio Oriente e Sul da Europa. Falava várias línguas e um português (abrasileirado) quase perfeito. Roubado em Nápoles com direito a espancamento pela população local por ter apanhado um dos assaltantes (noticia na CNN e BBC), tinha um orçamento de viagem ainda mais baixo que o nosso. Convenceu-nos a escalar a parte mais difícil do vulcão, por onde não se pagam três euros.
As fotos retractam a paisagem, mas não mostram a água do mar quente que queimava os pés. O Stromboli continuou longe, à espera da terceira ida à Sicília.

Lecce: mais uma cidade italiana.

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Bari-Patras: Grécia, o barco
Atenas: monstro branco com a sorte de ter muita história no meio.

Olímpia: olímpica.
Nafplion: mar












Meteora: monges com pouco que fazer.
















Alexandropolis: velhos ao mar.
Turquia

Um mês sem pegar numa tesoura traz destas coisas: enterrando-se na carne, uma unha de um dos dedos grandes dos pés estava encravada. Sem corta-unhas à mão, num comboio cheio no meio da Turquia, pego na navalha multi-funções (não Suiça, mas à Mcgyver) e saco da micro-tesoura – difícil de usar, mas a única que tenho.
No banco do outro lado do corredor, um senhor gordo, com mais de 60 anos, de cabelo e bigode cinzentos, aponta para mim e começa a protestar. “Ops, fiz merda e lá se vai a hospitalidade turca”, pensei…
Mas a javardice que poderia ser para muitos estar a cortar uma unha do pé num comboio, não era o principal ponto de discórdia do homem, já certamente avô, que horas antes tinha visto de chapéu islâmico na cabeça. Num turco incompreensível, mas com muitos gestos pelo meio, percebi: estava a cortar a unha mal. Com gestos rápidos, descalçou-se e exemplificou com o seu pé. Com a mão, fez o gesto certo. Estava a enterrar demais a tesoura nos cantos, num conselho dado há muito pela minha mãe.
Tentei explicar que não tinha outra hipótese, pois o erro vinha de trás e por defeito técnico meu (de cortes anteriores) a unha encravava-se e doía. Sem turco suficiente para tanta explicação e só gestos, desisti. Agradeci e parei, para não ferir a geral simpatia de um povo que em quase nada se aproxima do estereótipo dos feios, porcos e maus.

Istambul: Ocidente-Oriente.

































Capadócia, Goreme: Arte monumental natural. Muito suor.




































Ankara: Capital no meio da Anatólia. Ataturk, 70 anos depois.

Pamukkale: “Algodão” duro e molhado.












































A pequenez de Portugal só se percebe quando estamos fora. Quando nos dizem que somos os primeiros portugueses a aparecer por ali ou perguntam: «Onde é isso?». Há países mais pequenos, mas o nosso país não é grande. É pequeno. Em tamanho e em notoriedade internacional. Não temos guerras. Às vezes temos fogos. Noutras, organizamos eventos.
Dificilmente acreditrava que um país podia ser sinónimo de um homem. Nos sítios onde se adora futebol, Portugal é sinónimo de Figo. Podem não saber onde fica este rectângulo, que língua fala ou que não faz parte de Espanha. Talvez pela simplicidade do nome, além das capacidades futebolísticas, Figo é o nome que quase sempre se segue a Portugal. EM Nápoles, no coração de Itália. Na Grécia. Por dúzias de turcos. Por um pica ou uma velhota búlgara.

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Sofia: Estranhas mulheres bonitas. Mais uma cidade.

Surppreendidos com a beleza feminina búlgara, dois portugueses andam às voltas pela capital de um país de que até aí só conheciam nomes como Balakov ou Stoichkov. À entrada da maior loja da PT local, um homem, com aspecto de gerente de um banco, pergunta as horas. Resposta rápida, afastamento rápido.
Dentro do edifício, no meio de filas para pagar contas do telefone ou Internet, o “gerente bancário” volta atrás. Sem pudores, entrega um cartão: «Serviço de qualidade», garante.


Bucareste: Mini-Paris, cheia de nadias comanecis.
Belgrado: A guerra aérea da NATO.

Fui à missa em Belgrado. Todas as cidades europeias têm pelo menos uma catedral e muitas igrejas. Católicas, ortodoxas ou protestantes. Umas vezes misturam-se, outras não coexistem. De visita à milionésima catedral da minha conta pessoal, deparo-me com uma cerimónia ortodoxa. «Porque não?»
Animada como só tinha visto na igreja Maná, do genial Jorge Tadeu, já uma vez tinha assistido a uma missa luterana na Noruega. A ortodoxa seria uma nova experiência.
As comparações com a igreja católica são inevitáveis. Em primeiro lugar, uma constatação fácil, mas que nunca tinha visto num acto litúrgico: as igrejas ortodoxas não têm bancos. Com alguma resistência física, estão todos de pé. Talvez por isso (ou não…), a audiência é pouca, mas relativamente jovem, face às idades nas igrejas portuguesas.
Calado e sentindo olhares de suspeição – numa terra sérvia de gigantes onde sou quase um anão –, reparo que as mulheres estão de um lado e os homens do outro. Ainda mais monótona que as missas católicas a que assisti em Portugal, as rezas e cânticos repetem-se. De costas, o padre principal está virado para aquilo que devia ser um altar mas não passa de uma porta ornamentada. Solenemente, desaparece durante vastos períodos de tempo, deixando os restantes homens de batina a cantar.
De cabeça sempre para baixo, o sinal da cruz é feito repetidas vezes pelos fiéis, sem sons a sair da sua boca, e, muitas das vezes, com um estranho gesto final que apenas tinha visto nas aulas de ginástica: sem flectir as pernas, a mão direita desce até tocar na ponta do pé direito.

Zagreb: Capital. Perdido no tempo.

Nunca antes tinha sido abordado numa conversa típica de engate.
«Vou para onde? Faço o quê», penso eu, parado numa qualquer rua de Zagreb. «Turista?», perguntam-me sem aviso, num tom demasiado afável. «Que raio me querem agora vender… um almoço no restaurante da esquina ou uma dormida no hotel do canto?», estranhei, numa cidade onde nem na estação me vieram oferecer serviços turísticos.

- «Yes», digo eu.
- «From where»
- «Portugal», respondo.
- «Vais dormir aqui?»
- «Não sei.»
- «Tens tempo para beber qualquer coisa comigo?»
- «Não», respondo de imediato.

Conclusão: duas semanas sem fazer a barba dão-me ar de paneleiro.

PS. O autor de todas estas perguntas era um velho de mais de 60 anos.

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