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quarta-feira, julho 22, 2009

Pós-materialismo na casa de banho

É uma das minhas teorias favoritas nas ciências sociais. Que me permitiu perceber porque raio há tanta gente a morrer de fome em África e nós, deste lado do Mundo, nos preocupamos com coisas como a reciclagem ou os direitos dos homossexuais.
Tentando resumir, nós, no mundo desenvolvido, já temos há vários anos as nossas necessidades básicas satisfeitas. Existem, obviamente, excepções, mas de uma forma geral, praticamente todos (bem ou mal) temos comida na mesa, cama para dormir e um sistema de saúde (comparativamente) bastante razoável.
Com todas estas necessidades básicas satisfeitas e enraizadas sobretudo nas mentes dos mais novos que nunca passaram por dificuldades realmente severas, as pessoas (nós) começam a preocupar-se com coisas que, numa análise crua de quem passa fome, se podem chamar supérfluas – ambiente; direitos; liberdades individuais; cidadania…
Em Portugal, estes valores, a que Inglehart (o autor da peregrina ideia) chamou de pós-materialistas, estão, naturalmente, menos enraizados do que noutras sociedades ocidentais (apenas um de vários estudos sobre o assunto, aqui). As razões são lógicas: desenvolvemo-nos mais tarde e continuamos alguns passos atrás daqueles países desenvolvidos com que nos costumamos comparar.
Estas “novas” prioridades ajudam a explicar o nascimento do Bloco de Esquerda no final da década de 1990, mas podem estar em regressão com a crise nacional persistente dos últimos anos.

Tudo isto para dizer que há hoje nas estradas um exemplo extremo de pós-materialismo na sociedade portuguesa. Um cartaz publicitário que quase me fez parar o carro e ficar parvo de boca aberta a olhar para os novos rolos de papel higiénico da Renova - empresa nacional que já nos tinha presenteado há anos com umas folhas de papel higiénico preto.
Citando o texto promocional, “nenhum rolo da mesma embalagem é igual ao outro” e distingue-se “facilmente dos habituais rolos de papel branco ou decorados com padrões monótonos” (aqui).

Já não basta limpá-lo. É preciso limpá-lo com classe.

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segunda-feira, julho 20, 2009

Política sem toda a verdade

Manuela Ferreira Leite diz que o primeiro-ministro devia ter vergonha por não cumprir promessas. Sócrates terá feito "tudo ao contrário" e o PS tinha "todas" as condições para resolver os problemas sociais do país (aqui). José Sócrates responde: falam muito, mas "ninguém" apresenta propostas alternativas (aqui). Nenhuma das versões é verdadeira.

Para ganhar votos, ninguém diz toda a verdade. O outro lado da barricada não pode ser apenas mau: tem de ser sempre péssimo. É a política inevitável dos extremos, em que tudo o que o que outro faz só pode ser diabolizado. Sobretudo, perto de eleições. Frases sem grande conteúdo, mas que ficam bem no espectáculo mediático.

Dizer que "Sócrates fez tudo ao contrário" do que prometeu em 2005, é falso. Algumas coisas fez como disse; outras não. Afirmar que não há propostas alternativas, também não bate certo com o que se vê de vez em quando nas notícias. As propostas podem não ser muitas ou as melhores, mas existem.

Será possível dizer toda a verdade no combate político?

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terça-feira, julho 14, 2009

Fórmulas para ganhar dinheiro.



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domingo, julho 05, 2009



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quinta-feira, julho 02, 2009

O poder da imagem

Vamos supor que Manuel Pinho era um fantástico ministro da Economia; um genial político; alguém que salvou (como ele alega) os empregos de muitos portugueses. Imaginemos que sim (não consigo avaliar se é verdade). Um gesto a simular um par de cornos no meio de uma acesa troca de palavras parlamentares vale uma demissão?
Chamar a um político de forma indirecta aldrabão, palhaço, corrupto, interesseiro (como acontece todos os dias) não é igualmente grave?
Um gesto irreflectido justifica o fim de políticas que eventualmente se poderiam avaliar como boas? É razoável perder qualidade governativa com um novo ministro a acumular (inevitavelmente, mal) durante três meses duas pastas essenciais para o país?
A política e a sociedade podem ser injustas.

PS. Bom ou mau servidor da causa pública, Manuel Pinho tinha claramente um problema com a imagem. E isso é, goste ou não, mortal.

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