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domingo, janeiro 08, 2006

Benfica, autocolantes e dentes

21h22. À hora marcada, o comboio estava atrasado. Dois minutos depois, chegou à estação de Benfica.
É domingo, e a Linha de Sintra vai cheia. O SLB ganhou 2-0 ao Paços de Ferreira e vêem-se camisolas e cachecóis vermelhos. Uma voz de mulher carregada de sotaque africano levanta-se no ar: «Não tá vendo o desenho!», grita a mãe com um puto ao colo. Sentada no lugar destinado a inválidos, idosos e senhoras com barriga grande ou crianças pequenas, uma branca de meia-idade garante que não viu. «O autocolante costuma estar no vidro», justifica, recusando-se ao mesmo tempo a sair do lugar – «Também paguei bilhete!».
A negra começa aos berros. A vizinha ao lado da branca que se recusa a levantar, acaba por ceder o seu banco. Mas a mãe que se viu privada do direito de estar sentada, continua a gritar. Desta vez, ao ouvido do alvo das críticas, para delírio da extensa plateia à volta: «Não sabe ler, pergunta!» (...) «Você teve muita sorte da sua amiga dar o lugar. Não abre a boca, que eu te mato aqui.» (...) «Ainda vais sair daqui sem dentes.»
Ao fim de uma intensa troca de bocas, a branca calou-se e durante várias estações não deu um pio. Até Queluz, os dentes continuavam no sítio.