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sábado, janeiro 21, 2006

Fado, futebol, Portugal e Cavaco

O Benfica perde por um golo com o Gil Vicente. Numa nova versão do célebre «Onde está o Wally?», a maior dúvida que percorre as conversas de quem está nas bancadas do Pavilhão Atlântico passa por saber «onde está o Cavaco?», algures perdido na base do multiusos, recheada de mesas onde centenas de pessoas jantam e encerram a campanha eleitoral.
Atrás de mim, descubro que o Benfica empatou em Barcelos. Um apoiante do professor grita Cavaco e ouve a bola no rádio escondido entre a camisa. O apresentador do espectáculo faz sucessivos apelos ao voto no «Senhor Professor Aníbal Cavaco Silva».
As massas nas bancadas, sedentas por venerar um líder que os guie no incerto futuro, gritam o nome do ex-primeiro-ministro cada vez que este aparece nos écrans gigantes. Kátia Guerreiro canta dois fados. A organização distribui bandeiras. O azul da campanha presidencial perdida de 1996 foi substituído pelo verde e vermelho do principal símbolo do país, com uma simples inscrição no meio: «Portugal Maior».
No meio das bandeiras ao alto, algumas destacam-se: pelo laranja garrido; pelo empoeirado azul de há dez anos; pelos símbolos monárquicos; ou pela catana da bandeira de Angola... A equipa de Ronald Koeman passa para a frente do marcador.
Um cantor que desconheço completamente apela ao voto no «professor»: «Falta amor a Portugal», argumenta. Isabel Silvestre canta «ó rama, ó que linda rama». O speaker do Pavilhão Atlântico, que fica longe de encher, garante que os «nossos filhos não nos iriam perdoar» se no dia das eleições alguém ficasse em casa. No Domingo, o país será «reinventado».
O «senhor professor» sobe ao palco. As bandeiras agitam-se ainda mais do que o anormal do costume, e os gritos de «Cavaco à primeira» soltam-se ainda mais alto. O jogo de Barcelos acaba com 3-1 a favor do clube da Luz.