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quinta-feira, abril 15, 2010

Yushu

Yushu, região de Qinghai. Terramoto, centenas de mortos numa região quase deserta da China. Foi uma das primeiras notícias que vi de manhã nas agências. Nunca me tinha acontecido: não me recordo de conhecer um sítio devastado por um desastre natural.
Basicamente fomos a Yushu porque era impossível ir ao Tibete (falta de tempo e dinheiro). A alternativa era uma região na fronteira com a região autónoma chinesa que o livro dizia ser, na prática, também tibetana. Esperavam-nos 16 horas de viagem num autocarro com pequenos beliches em vez dos tradicionais bancos, num enorme planalto com um tamanho que parece maior do que a Península Ibérica e apenas uma cidade digna desse estatuto, algumas casas e espaços de oração dispersos.
Mesmo com fortes dores de cabeça que quase me levaram ao delírio e apesar de no final termos sido obrigados a regressar fazendo mais 2.000 quilómetros do que o previsto porque as autoridades chinesas proibiam a venda de bilhetes de autocarro a estrangeiros para um determinado percurso, Yushu acabou por ser o local que mais me marcou na China. Aquele de que guardo provavelmente mais e melhores recordações.
Yushu é apenas uma pequena cidade de 80 mil pessoas (Queluz tem mais...) no meio do nada do gigante planalto tibetano. Apenas não está no mapa da região autónoma do Tibete por razões políticas. Geograficamente está rodeada de montes verdes e incalculáveis quilómetros onde raramente se vê viva alma. Vêem-se rios, iaques e pequenas elevações cheias de mantras (orações budistas) em panos.
À cidade, dominada por comerciantes chineses, chegam tibetanos que fazem quilómetros e quilómetros para ir às compras. Quase todos vestidos ‘à dalai lama’. A uma-duas horas de distância há templos e santuários com cores e feitios que apenas imagens podem descrever correctamente e onde só se chega de táxi e se volta à boleia de simpáticos tibetanos a quem é difícil dizer não.
Não há turistas. Ninguém fala inglês. Um cenário quase inimaginável.
As imagens que chegaram hoje pelas notícias mostram ruas onde as casas parecem ter todas desabado. Yushu terá sido o epicentro deste sismo de 6.9. As fotos que apresento a seguir têm dois anos. Algumas coloquei por aqui nessa altura (aqui). Outras recuperei no arquivo.
Suspeito que muitos destes mosteiros e templos, que os tibetanos adoram quase como loucos, já não existem. Algumas casas mais humildes estavam forradas a bosta de iaque. Uma das minhas maiores curiosidades passa por saber o que aconteceu a um santuário do tamanho de um campo de futebol ocupado por um molho gigante de dois a três metros de pedras (com inscriçoes de orações tibetanas) percorrido incessantemente em peregrinação no sentido dos ponteiros do relógio.