Cavaco à primeira. Alegre na segunda. Soares nos 14. Bandeiras e fonte luminosa laranja
Depois da visão futebolística da campanha, uma tentativa de análise séria dos resultados eleitorais.
Cavaco: Muitos detestam o professor. Mas outros tantos amam-no. Em breve, será o Presidente de todos os portugueses, porque mais de metade dos que votam, votaram nele. Por 32 mil votos, ganhou as eleições na primeira volta. Já se esperava, mas a vantagem acabou por ser escassa face às sondagens. Os indecisos foram-se decidindo sobretudo para a esquerda e para Manuel Alegre. Mais dois dias, e Portugal arriscava-se a ter mais 15 dias de campanha. O resultado final acabaria por ser o mesmo. A segunda volta serviria apenas para encarecer as eleições e divertir o país com o inevitável apoio do PS ao candidato rejeitado.
Coabitação: A convivência entre Cavaco Silva e José Sócrates não será fácil. Ambos têm um feitio difícil, com tiques de arrogância, parecendo nunca admitir que alguém os contrarie. Apesar de o Presidente só servir para responder «sim» ou «não», em vez de «vai por aqui ou por ali», o novo inquilino do Palácio de Belém já disse: «Quero que o Governo governe bem!».
Alegre: Dizer que o deputado poeta era um candidato sem partido, é falso. A máquina socialista não estava com ele, mas uma boa parte dos que o seguiam vinham desse mesmo aparelho habituado a organizar candidaturas. Mesmo assim, é obra conseguir um quinto dos votos e bater o candidato indicado pela força política que há meses ganhou uma inédita maioria absoluta.
Soares: Nunca convivi enquanto ser minimamente pensante com Mário Soares no governo ou na presidência. Mas é uma pena que o homem que um dia foi chamado de «pai da Pátria» acabe a carreira política com 14 por cento dos votos. A culpa é sobretudo do próprio, que foi mais papista que o Papa, e confiou demais no seu valor, apesar da avançada idade, que merecia ser alvo de uma sondagem própria como factor de recusa para votar em Soares. Espero que o desaire eleitoral não afecte a saúde do velho socialista, que aos 81 anos demonstrou uma energia impressionante... mas inútil.
Jerónimo e Louçã: Os candidatos presidenciais/líderes partidários tiveram destinos diferentes. Quase ninguém reparou – pelo discurso de ontem, nem o próprio –, mas Francisco Louçã e o seu sempre crescente Bloco de Esquerda, perderam votos – quase 80 mil face às legislativas. Noutro extremo, o PCP e o seu secretário-geral operário (num tempo em que estes mal existem nas fábricas) reforçaram uma votação que já em Fevereiro tinha sido boa.
Pequenos candidatos: Por razões sobretudo burocráticas e que parecem ter como único objectivo manter o monopólio dos partidos na vida política, sete candidatos sem raízes partidárias foram excluídos de ontem aparecer no boletim de voto das eleições presidenciais. Nada de anormal na nossa democracia, mas que neste caso pode ter tido algumas consequências: Cavaco ganhou à primeira por apenas 32 mil votos...
Sondagens: De uma forma geral, as sondagens portaram-se bem. Se confirmarem aqui, podem ver que nenhuma das realizadas antes das eleições pôs Cavaco Silva numa segunda volta. E mesmo que isso tivesse acontecido, não seria um escândalo: muitos eleitores decidiram o voto perto da ida às urnas. Apesar dos 346 mil votos que separaram Soares e Alegre nas eleições (6,38%), as intenções de voto entre os candidatos ligados ao PS foram sempre muito flutuantes, o que justifica as diferenças nas sondagens. Menos justificáveis parecem os números da Eurosondagem, o único instituto ou empresa que colocou sempre Soares à frente de Alegre, com vantagens que chegaram aos 8 por cento...
Comentadores políticos: Durante meses, e contra todos os inquéritos de opinião, a maioria dos especialistas disseram: «Alegre está à frente agora, mas a luta final será entre Cavaco e Soares». Não foi. As campanhas parece que valem muito pouco nos dias que correm, e o ex-Presidente levou uma tareia digna de um candidato de segunda linha. Mesmo assim, durante os meses da longa e decisiva pré-campanha, e com base nessas mesmas análises infalíveis, Manuel Alegre foi remetido para segundo plano nos media. Se alguém tiver dúvidas, consulte este link da Marktest. Nas 21 semanas pré-eleições analisadas pela empresa de sondagens, Cavaco Silva teve 19 horas de notícias. Alegre 17 horas. E o candidato dos 14 por cento, 26 horas. Como com Santana Lopes no ano passado, o nome que mais tempo esteve na televisão acabou trucidado nas urnas.
Bandeiras: Nunca como ontem vi tantas bandeiras do PSD e do CDS-PP num discurso de Cavaco Silva.
Fonte luminosa: Porque razão é que a magnífica fonte luminosa em frente ao CCB teve quase sempre uma estranha cor laranja em quase todos os directos de ontem à noite?
Cavaco: Muitos detestam o professor. Mas outros tantos amam-no. Em breve, será o Presidente de todos os portugueses, porque mais de metade dos que votam, votaram nele. Por 32 mil votos, ganhou as eleições na primeira volta. Já se esperava, mas a vantagem acabou por ser escassa face às sondagens. Os indecisos foram-se decidindo sobretudo para a esquerda e para Manuel Alegre. Mais dois dias, e Portugal arriscava-se a ter mais 15 dias de campanha. O resultado final acabaria por ser o mesmo. A segunda volta serviria apenas para encarecer as eleições e divertir o país com o inevitável apoio do PS ao candidato rejeitado.
Coabitação: A convivência entre Cavaco Silva e José Sócrates não será fácil. Ambos têm um feitio difícil, com tiques de arrogância, parecendo nunca admitir que alguém os contrarie. Apesar de o Presidente só servir para responder «sim» ou «não», em vez de «vai por aqui ou por ali», o novo inquilino do Palácio de Belém já disse: «Quero que o Governo governe bem!».
Alegre: Dizer que o deputado poeta era um candidato sem partido, é falso. A máquina socialista não estava com ele, mas uma boa parte dos que o seguiam vinham desse mesmo aparelho habituado a organizar candidaturas. Mesmo assim, é obra conseguir um quinto dos votos e bater o candidato indicado pela força política que há meses ganhou uma inédita maioria absoluta.
Soares: Nunca convivi enquanto ser minimamente pensante com Mário Soares no governo ou na presidência. Mas é uma pena que o homem que um dia foi chamado de «pai da Pátria» acabe a carreira política com 14 por cento dos votos. A culpa é sobretudo do próprio, que foi mais papista que o Papa, e confiou demais no seu valor, apesar da avançada idade, que merecia ser alvo de uma sondagem própria como factor de recusa para votar em Soares. Espero que o desaire eleitoral não afecte a saúde do velho socialista, que aos 81 anos demonstrou uma energia impressionante... mas inútil.
Jerónimo e Louçã: Os candidatos presidenciais/líderes partidários tiveram destinos diferentes. Quase ninguém reparou – pelo discurso de ontem, nem o próprio –, mas Francisco Louçã e o seu sempre crescente Bloco de Esquerda, perderam votos – quase 80 mil face às legislativas. Noutro extremo, o PCP e o seu secretário-geral operário (num tempo em que estes mal existem nas fábricas) reforçaram uma votação que já em Fevereiro tinha sido boa.
Pequenos candidatos: Por razões sobretudo burocráticas e que parecem ter como único objectivo manter o monopólio dos partidos na vida política, sete candidatos sem raízes partidárias foram excluídos de ontem aparecer no boletim de voto das eleições presidenciais. Nada de anormal na nossa democracia, mas que neste caso pode ter tido algumas consequências: Cavaco ganhou à primeira por apenas 32 mil votos...
Sondagens: De uma forma geral, as sondagens portaram-se bem. Se confirmarem aqui, podem ver que nenhuma das realizadas antes das eleições pôs Cavaco Silva numa segunda volta. E mesmo que isso tivesse acontecido, não seria um escândalo: muitos eleitores decidiram o voto perto da ida às urnas. Apesar dos 346 mil votos que separaram Soares e Alegre nas eleições (6,38%), as intenções de voto entre os candidatos ligados ao PS foram sempre muito flutuantes, o que justifica as diferenças nas sondagens. Menos justificáveis parecem os números da Eurosondagem, o único instituto ou empresa que colocou sempre Soares à frente de Alegre, com vantagens que chegaram aos 8 por cento...
Comentadores políticos: Durante meses, e contra todos os inquéritos de opinião, a maioria dos especialistas disseram: «Alegre está à frente agora, mas a luta final será entre Cavaco e Soares». Não foi. As campanhas parece que valem muito pouco nos dias que correm, e o ex-Presidente levou uma tareia digna de um candidato de segunda linha. Mesmo assim, durante os meses da longa e decisiva pré-campanha, e com base nessas mesmas análises infalíveis, Manuel Alegre foi remetido para segundo plano nos media. Se alguém tiver dúvidas, consulte este link da Marktest. Nas 21 semanas pré-eleições analisadas pela empresa de sondagens, Cavaco Silva teve 19 horas de notícias. Alegre 17 horas. E o candidato dos 14 por cento, 26 horas. Como com Santana Lopes no ano passado, o nome que mais tempo esteve na televisão acabou trucidado nas urnas.
Bandeiras: Nunca como ontem vi tantas bandeiras do PSD e do CDS-PP num discurso de Cavaco Silva.
Fonte luminosa: Porque razão é que a magnífica fonte luminosa em frente ao CCB teve quase sempre uma estranha cor laranja em quase todos os directos de ontem à noite?
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