Serra da Utopia
Há três caminhos para chegar ao topo da serra de Carnaxide. Pela rua sem saída que passa pelo cemitério da Amadora. Pela estrada que acaba no cemitério de Queluz, saltando umas vedações pelo meio. Ou por uma estrada que desconheço em Oeiras, mas que no final tem caminhos rodeados de mato, coelhos e campos de espigas ao nível da cintura. Em qualquer caso, é impossível chegar lá de carro.
E o que existe no topo da serra de Carnaxide? Fisicamente, quase nada: o esqueleto daquilo que um dia será um bairro de luxo e os restos de um moinho com um marco geodésico em cima.
Uma ou duas vezes por ano costumo ir lá acima ouvir o silêncio dos pássaros e subir ao topo do resto do moinho para ver melhor a panorâmica de 360 graus que permite olhar para a serra de Sintra, Arrábida e Monsanto, barra do Tejo, ponte 25 de Abril, Costa da Caparica, Cabo Espichel, e molhos de prédios que compõem a Amadora, Queluz ou Massamá. Quando volto para baixo, fico sempre com a sensação que foi a última vez que vi aquela paisagem.
Descobri a serra de Carnaxide há poucos anos. Numa tarde, como ontem, peguei na bicicleta e fui andando. Em Queluz, atravessei o IC19 pela ponte que um dia caiu no meio do trânsito. Comecei a subir e passado um bocado cheguei ao cemitério. Ultrapassei um portão que havia ao lado e continuei a subir, desta vez por uns caminhos rodeados de arbustos.
De repente, um enorme espaço aberto em obras para fazer dezenas de arruamentos. No meio de alguns tractores e camiões parados por ser fim-de-semana, continuei a andar, até chegar ao topo. E logo naquele dia achei que seria a primeira e última vez que via aquele espaço.
Mas não. As obras continuam (devagar) e as ruas, seguindo as regras do urbanismo moderno, estão delineadas. Vê-se que os esgotos estão enterrados no chão, bem como os pedaços que definem a estrada e os passeios. O esqueleto do bairro está lá e percebe-se que o resto de moinho no topo ficará no meio de uma rotunda. A crise económica terá travado, por agora, o crescimento dos prédios.
Tirando eu, dificilmente alguém vai para ali. Antes, ainda se ouviam os tiros de caçadores a tentar apanhar os coelhos que continuam aos pulos do lado de Oeiras. Hoje, nem isso. E das vezes que fui lá acima, estive quase sempre sozinho. Apenas uma vez levei a “cara-metade” – que nunca percebi se gostou do sítio. Noutro dia, fui com um amigo para tirar fotos - acabámos expulsos por um gajo das obras que não gostou das máquinas ao pescoço.
Não direi que a serra de Carnaxide é única. Conheço alguns lugares parecidos em Sintra, na Arrábida ou Monsanto. Mas por mim, ficava sempre assim: sem prédios, sem carros, sem gente. Se ninguém lá vai, é porque não querem. A vista não está reservada para o sortudo que possa comprar a casa que permitirá ver aquela panorâmica.
As casas que ali vão nascer estarão incluídas na Vila Utopia. Uma urbanização de luxo, com 45 moradias isoladas, projectadas por 18 dos mais reconhecidos e prestigiados arquitectos portugueses, em que a mais barata custa 750 mil euros (aqui). «Um empreendimento topo de gama para um nicho de mercado», num sítio para onde estaria projectado um parque urbano.
Ontem, curiosamente, não fui o único a andar pela serra de Carnaxide. No meio dos buracos e lama das obras para construir ruas, encontrei um casal com um puto de 3 ou 4 anos. De repente, pensei: também eu gostava de levar um filho à serra de Carnaxide e mostrar-lhe a vista de 360 graus em que parece que estamos no topo do Mundo.
Tenho muitas dúvidas de que vá a tempo.
E o que existe no topo da serra de Carnaxide? Fisicamente, quase nada: o esqueleto daquilo que um dia será um bairro de luxo e os restos de um moinho com um marco geodésico em cima.
Uma ou duas vezes por ano costumo ir lá acima ouvir o silêncio dos pássaros e subir ao topo do resto do moinho para ver melhor a panorâmica de 360 graus que permite olhar para a serra de Sintra, Arrábida e Monsanto, barra do Tejo, ponte 25 de Abril, Costa da Caparica, Cabo Espichel, e molhos de prédios que compõem a Amadora, Queluz ou Massamá. Quando volto para baixo, fico sempre com a sensação que foi a última vez que vi aquela paisagem.
Descobri a serra de Carnaxide há poucos anos. Numa tarde, como ontem, peguei na bicicleta e fui andando. Em Queluz, atravessei o IC19 pela ponte que um dia caiu no meio do trânsito. Comecei a subir e passado um bocado cheguei ao cemitério. Ultrapassei um portão que havia ao lado e continuei a subir, desta vez por uns caminhos rodeados de arbustos.
De repente, um enorme espaço aberto em obras para fazer dezenas de arruamentos. No meio de alguns tractores e camiões parados por ser fim-de-semana, continuei a andar, até chegar ao topo. E logo naquele dia achei que seria a primeira e última vez que via aquele espaço.
Mas não. As obras continuam (devagar) e as ruas, seguindo as regras do urbanismo moderno, estão delineadas. Vê-se que os esgotos estão enterrados no chão, bem como os pedaços que definem a estrada e os passeios. O esqueleto do bairro está lá e percebe-se que o resto de moinho no topo ficará no meio de uma rotunda. A crise económica terá travado, por agora, o crescimento dos prédios.
Tirando eu, dificilmente alguém vai para ali. Antes, ainda se ouviam os tiros de caçadores a tentar apanhar os coelhos que continuam aos pulos do lado de Oeiras. Hoje, nem isso. E das vezes que fui lá acima, estive quase sempre sozinho. Apenas uma vez levei a “cara-metade” – que nunca percebi se gostou do sítio. Noutro dia, fui com um amigo para tirar fotos - acabámos expulsos por um gajo das obras que não gostou das máquinas ao pescoço.
Não direi que a serra de Carnaxide é única. Conheço alguns lugares parecidos em Sintra, na Arrábida ou Monsanto. Mas por mim, ficava sempre assim: sem prédios, sem carros, sem gente. Se ninguém lá vai, é porque não querem. A vista não está reservada para o sortudo que possa comprar a casa que permitirá ver aquela panorâmica.
As casas que ali vão nascer estarão incluídas na Vila Utopia. Uma urbanização de luxo, com 45 moradias isoladas, projectadas por 18 dos mais reconhecidos e prestigiados arquitectos portugueses, em que a mais barata custa 750 mil euros (aqui). «Um empreendimento topo de gama para um nicho de mercado», num sítio para onde estaria projectado um parque urbano.
Ontem, curiosamente, não fui o único a andar pela serra de Carnaxide. No meio dos buracos e lama das obras para construir ruas, encontrei um casal com um puto de 3 ou 4 anos. De repente, pensei: também eu gostava de levar um filho à serra de Carnaxide e mostrar-lhe a vista de 360 graus em que parece que estamos no topo do Mundo.
Tenho muitas dúvidas de que vá a tempo.
5 Comments:
dude!
eu nasci em carnaxide, ao pé da serra! tirei um curso de engenharia florestal por causa dela. mil e uma historias daquela serra!
http://www.youtube.com/watch?v=up0sYt7YpD4
Eu vivo há 35 anos em Queluz.Descobri a serra de Carnaxide ainda era uma reserva de caça com muito entulho no principal caminho que ligava os dois cemitérios.
Um dia encontrei maquinas a trabalhar a terra.Estavam a fazer terraplanagem.Quando voltei ao local já existia o esqueleto de uma urbanização.
Esta urbanização vai desde o cemitério de Queluz até ao cemitério da Amadora e prolonga-se para além das antigas antenas Marconi.Existem arruamentos incompletos que sugerem que a urbanização será ainda maior.
No momento existem duas vivendas.No outro dia estava eu a passear quando, junto a uma das vivendas, me cruzei com o proprietario.O BMW estacionado à porta evidenciava a classe economica.Quando sairam foram avisar um gajo com sotaque de leste que vive num estaleiro construido desde o inicio.O homem foi ter comigo para me mandar embora.Parece que aquilo é propriedade privada!!
Acredito que mais pessoas conhecem aquela zona, mas dadas as circunstancias de acesso e de não haver propriamente livre circulação, não se encontram todas ao mesmo tempo.
Outra experiencia que sugiro é passear pela Quinta Nova(Queluz) ao inicio da noite, para quem tiver coragem!
Ainda hoje passei por lá na minha corrida matinal com uns amigos e o aviso de propriedade privada continua lá, e os cães sem qualquer tipo de trela também. Além de aquela estrada ser bastante boa para a prática de running sem incomodar ninguém, uma vez que liga a Amadora a Queluz, foi a primeira vez que estive na serra de carnaxide e gostei bastante.
https://unodegroote.wordpress.com/sobre/
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