Ao motorista anónimo do 93 de Bratislava
São dois os grandes responsáveis pelas duas fotografias que vêem no meio deste texto. O meu dedo indicador, que carregou no botão da máquina até fazer click e que juntamente com as minhas pernas subiu ao interminável e sinuoso monte por cima do Castelo de Neuschwanstein, na Alemanha. E um condutor de autocarros de Bratislava, na Eslováquia.
Talvez por preguiça, durante todo o dia anterior não acreditei naquilo que os meus olhos já tinham visto: a pequena capital eslovaca tinha duas estações de comboios de onde partiam comboios internacionais. Quinze minutos antes da hora marcada, estava na estação errada.
O plano inicial era sair de Bratislava ao início da noite para de manhã estar em Innsbruck, na Áustria. Já na capital eslovaca, lembrei-me de Neuschwanstein. Faltava-me três dias para estar em Lisboa e se não fosse agora, não iria lá tão cedo.
Neuschwanstein é, juntamente com Sintra (o Palácio da Pena, de Monserrate ou a Quinta da Regaleira), os Açores ou o Monte de S. Michel (em França), um daqueles sítios que não parecem deste Mundo, mas sim saídos de um conto de fadas. Pode ser um sítio de plástico, como me disseram, que não tem nada a ver com a vida real. Mas se existe, quero vê-lo.
“Castelo da Cinderela” é também o nome dado por alguns a este edifício construído no fim do século XIX por um rei da Baviera que apenas lá viveu meia-dúzia de dias para depois ser considerado louco para exercer as funções reais. Quanto a mim, vi Neuschwanstein pela primeira vez num puzzle que me levou dias a concluir. “Isto é giro, mas nunca lá vou pôr os pés”, pensei na altura. Nem sabia onde aquilo ficava e o estranho nome do local perdeu-se com o tempo.
Um dia, não sei como, descobri que Neuschwanstein ficava algures na Alemanha. Noutro, perguntei o nome exacto a um luso-alemão. Uma rápida pesquisa na Internet explicou-me como chegar lá. O Castelo da Cinderela não fica no fim do Mundo, mas no “cu da Alemanha”, encravado nos Alpes, ao lado das fronteiras com a Áustria e Suiça.
Quando há uns meses escolhi os principais objectivos da viagem, Neuschwanstein estava lá. Mas nunca mais me lembrei. Em Bratislava, a ideia voltou-me à cabeça. Optei por deixar para trás Innsbruck, e ir directamente para o castelo da Baviera.
Depois da confusão com as estações de comboio de Bratislava, só me restavam duas opções: tentava o milagre de chegar à outra ponta da capital eslovaca em 15 minutos; ou fazia uma mudança de comboio também em tempo recorde em Viena. Comecei por tentar a primeira opção, sabendo que se esta falhasse, não teria tempo nem coroas eslovacas para voltar à estação inicial e ir nesse dia para a Áustria.
Como me indicaram, teria de apanhar o autocarro 93. Encontrei-o rapidamente, mas estava parado como em qualquer estacão terminal com as luzes apagadas e o condutor lá dentro a fazer contas para iniciar mais um percurso que já terá feito milhares de vezes.
Bati à porta e o condutor, de cerca de 50 anos e que à primeira vista parecia pouco simpático, abriu-a, sem me mandar, como seria de esperar, para a paragem onde os outros passageiros esperavam pelo autocarro.
O homem não sabia uma palavra de inglês. Mostrei-lhe o papel com o nome da estação de comboios e a hora a que tinha de lá estar. “Problem, problem, problem”, repetiu várias vezes abanando a cabeça. Fez contas mentais com os horários dos autocarros de Bratislava e um desenho num papel que me levou a pensar que queria que a meio trocasse de autocarro. De repente, viu que não estava a perceber nada e diz “site, site, site…”. Perante a minha dúvida em sentar-me ou ir embora e optar pela segunda opção de tentar uma mudança de comboio em Viena, repetiu insistentemente “site, site, site…”. Renitente, confiei no anónimo motorista do 93 de Bratislava.
Sem me pedir qualquer dinheiro pela viagem, passado um minuto o autocarro arrancou. Depois de uma dúzia de paragens, apontou-me para descer e ir em frente por um túnel. Estava ali a estação.
Faltava um minuto para o comboio partir. Corri como um louco com uma mala de não sei quantos quilos às costas. As portas estavam fechadas. Um polícia faz-me sinal com a mão para a direita e diz “passport”. A porta de entrada para a velha Europa dos 15, onde o controlo de fronteiras já não existe, estava ali. Às 5 da manhã estava em Innsbruck. Às 9 em Neuschwanstein. À tarde tirava estas fotos.
Talvez por preguiça, durante todo o dia anterior não acreditei naquilo que os meus olhos já tinham visto: a pequena capital eslovaca tinha duas estações de comboios de onde partiam comboios internacionais. Quinze minutos antes da hora marcada, estava na estação errada.
O plano inicial era sair de Bratislava ao início da noite para de manhã estar em Innsbruck, na Áustria. Já na capital eslovaca, lembrei-me de Neuschwanstein. Faltava-me três dias para estar em Lisboa e se não fosse agora, não iria lá tão cedo.
Neuschwanstein é, juntamente com Sintra (o Palácio da Pena, de Monserrate ou a Quinta da Regaleira), os Açores ou o Monte de S. Michel (em França), um daqueles sítios que não parecem deste Mundo, mas sim saídos de um conto de fadas. Pode ser um sítio de plástico, como me disseram, que não tem nada a ver com a vida real. Mas se existe, quero vê-lo.
“Castelo da Cinderela” é também o nome dado por alguns a este edifício construído no fim do século XIX por um rei da Baviera que apenas lá viveu meia-dúzia de dias para depois ser considerado louco para exercer as funções reais. Quanto a mim, vi Neuschwanstein pela primeira vez num puzzle que me levou dias a concluir. “Isto é giro, mas nunca lá vou pôr os pés”, pensei na altura. Nem sabia onde aquilo ficava e o estranho nome do local perdeu-se com o tempo.
Um dia, não sei como, descobri que Neuschwanstein ficava algures na Alemanha. Noutro, perguntei o nome exacto a um luso-alemão. Uma rápida pesquisa na Internet explicou-me como chegar lá. O Castelo da Cinderela não fica no fim do Mundo, mas no “cu da Alemanha”, encravado nos Alpes, ao lado das fronteiras com a Áustria e Suiça.
Quando há uns meses escolhi os principais objectivos da viagem, Neuschwanstein estava lá. Mas nunca mais me lembrei. Em Bratislava, a ideia voltou-me à cabeça. Optei por deixar para trás Innsbruck, e ir directamente para o castelo da Baviera.
Depois da confusão com as estações de comboio de Bratislava, só me restavam duas opções: tentava o milagre de chegar à outra ponta da capital eslovaca em 15 minutos; ou fazia uma mudança de comboio também em tempo recorde em Viena. Comecei por tentar a primeira opção, sabendo que se esta falhasse, não teria tempo nem coroas eslovacas para voltar à estação inicial e ir nesse dia para a Áustria.
Como me indicaram, teria de apanhar o autocarro 93. Encontrei-o rapidamente, mas estava parado como em qualquer estacão terminal com as luzes apagadas e o condutor lá dentro a fazer contas para iniciar mais um percurso que já terá feito milhares de vezes.
Bati à porta e o condutor, de cerca de 50 anos e que à primeira vista parecia pouco simpático, abriu-a, sem me mandar, como seria de esperar, para a paragem onde os outros passageiros esperavam pelo autocarro.
O homem não sabia uma palavra de inglês. Mostrei-lhe o papel com o nome da estação de comboios e a hora a que tinha de lá estar. “Problem, problem, problem”, repetiu várias vezes abanando a cabeça. Fez contas mentais com os horários dos autocarros de Bratislava e um desenho num papel que me levou a pensar que queria que a meio trocasse de autocarro. De repente, viu que não estava a perceber nada e diz “site, site, site…”. Perante a minha dúvida em sentar-me ou ir embora e optar pela segunda opção de tentar uma mudança de comboio em Viena, repetiu insistentemente “site, site, site…”. Renitente, confiei no anónimo motorista do 93 de Bratislava.
Sem me pedir qualquer dinheiro pela viagem, passado um minuto o autocarro arrancou. Depois de uma dúzia de paragens, apontou-me para descer e ir em frente por um túnel. Estava ali a estação.
Faltava um minuto para o comboio partir. Corri como um louco com uma mala de não sei quantos quilos às costas. As portas estavam fechadas. Um polícia faz-me sinal com a mão para a direita e diz “passport”. A porta de entrada para a velha Europa dos 15, onde o controlo de fronteiras já não existe, estava ali. Às 5 da manhã estava em Innsbruck. Às 9 em Neuschwanstein. À tarde tirava estas fotos.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home