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sexta-feira, outubro 14, 2005

No labirinto Soviético

Depois do turismo nazi, virei-me para o turismo comunista. “Experimente o presente de Estaline a Cracóvia no distrito comunista de Nowa Huta”, dizia o panfleto da empresa “Comunism Tours”.
A ideologia da foice e do martelo está morta. Alguns poderão continuar a sonhar – legítima e romanticamente – que um dia ela será implementada numa qualquer parte do mundo, mas o mais provável é que isso nunca passe daquilo que realmente é: um sonho.
O fim daquilo a que se chamava comunismo no Leste europeu trouxe uma nova espécie de turismo que se baseia no recordar do tempo em que a região aparecia a vermelho no mapa-mundo e por detrás da Cortina de Ferro.
T-shirts com a foto do Lenine. Chapéus tipo russo com a foice e o martelo como símbolo. Camisolas com a inscrição CCCP. Tudo serve para vender um passado que já não existe.
As excursões a sítios criados pelo comunismo são outra forma de “turismo vermelho”. Fiz umas perguntas no posto de informação de Cracóvia sobre o que era Nowa Huta. Lá me explicaram que foi uma nova cidade, criada e planeada ao lado de uma zona industrial e a poucos quilómetros de Cracóvia, que continuaria a ser o centro intelectual da região. Em Nowa Huta, viveriam os operários. Uma espécie de “Chelas comuna”, pensei eu, depois de ver os desenhos dos prédios.
Esqueci a empresa que fazia excursões para a zona. Não gosto que me guiem e não queria pagar os 119 zlots (mais de 20 euros) pedidos. Sobrava-me um dia em Cracóvia e meti-me à estrada. A pé, segui o caminho que tinha visto num mapa da cidade de João Paulo II.
O percurso acabou por ser muito mais longo do que o previsto: cerca de uma hora e meia pelos subúrbios de Cracóvia. Chegado a Nowa Huta, não fiquei surpreendido. Os prédios não eram tão grandes como os de Chelas (cinco ou seis andares, no máximo), mas eram contínuos, como se tivessem deitado os prédios daquela zona de Lisboa, colando-os uns aos outros em filas de blocos intermináveis. Não queria ter andado tanto para voltar logo para trás e fui-me metendo pelas ruas. Encontrei uma tabuleta com um mapa de Nowa Huta e segui as indicações. Daí a 500 metros, devia encontrar outra. Mas não encontrei. Estava perdido.
Só a partir daí me apercebi do estranho local onde tinha vindo parar. Sem qualquer ponto de referência, tudo era igual. As portas das casas. As janelas. Os quiosques de jornais, fruta ou outros produtos sempre plantados de x em x metros. As árvores. Os prédios sem fim à vista, sempre cinzentos da sujidade dos anos. E o chão, sempre com os mesmos quadrados de cimento, mais ou menos esburacados conforme o uso e que pareciam nunca ter visto água. Até as pessoas pareciam ser sempre as mesmas. Estava perdido no labirinto soviético.
Hora e meia depois, encontrei o caminho de volta para Cracóvia e deixei para trás esta verdadeira fábrica de produção e formatação de pessoas.